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A contribuição de Paiva Moura à Feira Hippie

Aos domingos, todo mundo em Belo Horizonte sabe: uma parte importante da Avenida Afonso Pena fica fechada para o trânsito de veículos de manhã até por volta das 17h, pois no espaço ocorre a famosa Feira Hippie. São quase 2 mil expositores e 60 mil visitantes a cada semana, com estimativa de gasto de R$ 50 por pessoa em mercadorias.

Antônio de Paiva Moura foi o terceiro diretor da Feira Hippie (1976 até início dos anos 1980), quando esta ainda era na Praça da Liberdade: “Trabalhava quinta e domingo, então podia lecionar normalmente nos outros dias”, explica o professor. Segundo ele, “a prefeitura precisava de alguém com conhecimento de arte, até para selecionar melhor quem podia expor. Havia isenção de tributos para quem produzisse os próprios trabalhos e existia a tentação de que se expusessem itens industrializados fantasiados de artesanato”.

A Feira Hippie começou em 1969, sendo incorporada pela prefeitura dois anos depois: “Os alunos da Escola Guignard expunham na feira, tudo aleatoriamente. Um dia, o governador Israel Pinheiro resolveu caminhar pela praça, viu os expositores e sugeriu que fosse criada uma feira, pois a Praça da Liberdade era muito pouco frequentada na época”, explica Moura.

A chegada da prefeitura foi positiva na visão de Antônio de Paiva Moura: “Antes, havia uma seleção de artistas e artesãos, mas se cada um chegasse e expusesse seus trabalhos viraria uma tremenda bagunça”. Moura lembra que a feira passou a contar com a presença de força policial, “pois havia problemas não só de segurança como também de venda de objetos industrializados”.

Na Afonso Pena desde 1991, a Feira Hippie tem prós e contras em relação à original, na opinião de Antônio de Paiva Moura: “Mantiveram-se a exposição por setores e a presença fixa de artistas, que, admitidos, ficam lá por muitos anos”. Porém, o professor chama a atenção para a venda de objetos fabricados em série, “algo com que tínhamos muito cuidado quando fui diretor. Conversávamos muito para saber a procedência dos trabalhos”, avisa Moura, que também reconhece: “Claro que o tamanho atual da Feira Hippie torna muito mais difícil essa fiscalização”.

A arte como mercadoria

Profundo conhecedor de história da arte, Antônio de Paiva Moura sabe bem o significado atual de arte: “A política e o Estado perderam espaço para a cultura e a economia. Com isso, a cultura e a arte viraram essencialmente mercadoria, sendo o poder econômico a ditar as regras na sociedade”. De acordo com Moura, é por isso que atualmente os megashows são tão importantes: “Um evento desses movimenta hotelaria, transporte aéreo, comidas e bebidas, aluguéis de materiais e estruturas etc.”.

Para ele, a arte perdeu a função humanística, pois a melhor forma de ensinar arte é sendo livre: “O artista não é técnico, ele deve submeter a técnica à sua criação, mas a forma não pode ser mais importante que o conteúdo. Mas é claro que ainda existem grupos que valorizam a essência da arte, seja na música, no teatro e até no Carnaval”, explica o professor.

Antônio de Paiva Moura ainda lecionou Cultura Mineira no curso de Psicologia Junguiana da PUC Minas e História de Minas no UNI-BH, além de ter sido presidente da Comissão Mineira de Folclore.

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