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O câncer infantojuvenil tem chance de cura

“Quando uma célula tem defeito, ela mesma tenta consertá-lo. Se não consegue, ela se destrói. O que acontece no câncer é que a célula tumoral aprende a não morrer, então ela perde a capacidade de se autodestruir e começa a se multiplicar ininterruptamente”, explica a oncologista pediátrica Vanessa Carvalho. Segundo ela, os tipos mais comuns de câncer infantojuvenil são leucemias, os do Sistema Nervoso Central e linfomas: “São todos de origem genética, mas não todos hereditários. Estes acometem apenas 4% dos pacientes”.

O diagnóstico de câncer é um momento particularmente difícil: “Percebo nos pais o sentimento forte de culpa, de que deveriam ter visto os sinais ou levado a sério as queixas do filho. Precisamos desconstruir esse sentimento, pois não há culpa”. Vanessa descreve o tratamento como um casamento forçado com o oncologista e sua equipe: “O tratamento dura um, dois ou até mais anos. A relação com a família da criança ou adolescente precisa ser de muita confiança, até para que os pais possam sentir liberdade de tirar as dúvidas, que são muitas, num ambiente cheio de fake news”, explica. A médica acrescenta que a família precisa estar muito bem estruturada, pois o tratamento é cansativo, o paciente muda a visão da realidade, pode ficar mais nervoso: “Ele precisa de alguém que o conheça por perto, sendo parente ou não”.

O tratamento do câncer infantojuvenil pode abranger quimioterapia, radioterapia e cirurgia, mas há algumas diferenças em relação ao tratamento de adultos: “Os tumores do câncer infantojuvenil crescem mais rápido, por isso os intervalos das sessões são menores, pois elas precisam dar a resposta também mais rápido”, avisa Vanessa.

Oncologia pediátrica

A oncologista pediátrica explica que, após o término do tratamento, simbolizado pelo tocar do sino, o paciente pode ter uma vida normal, estudar, casar e ter filhos. “Tenho pacientes curados que estão fazendo faculdade, inclusive de medicina”. De acordo com ela, o acompanhamento pós-tratamento é de cinco a dez anos: “Nesse período há maior chance de a doença voltar, a nossa preocupação é tentar perceber precocemente algum resquício do tumor que pode voltar a crescer. Mesmo após o fim do tratamento e o diagnóstico de cura, a luta é constante”.

Ela reforça que o sucesso do tratamento tem relação direta com a descoberta precoce da doença: “É muito importante a formação médica estimular o aprendizado dos futuros médicos para que saibam o momento certo de encaminhar os pacientes para investigar e tratar o câncer. Eu sou a ponta final, às vezes recebo um paciente em estado terminal porque ficou seis ou oito meses perdido entre consultas médicas”, lamenta Vanessa.

A chance de cura do câncer infantojuvenil atinge até 90% dos casos nos países desenvolvidos, enquanto no Brasil alcança 60%: “Os protocolos de tratamento são os mesmos, o problema no país é o tempo até o início do tratamento e o suporte clínico disponível, como CTI e equipe especializada em oncologia”. Por fim, Vanessa alerta: “Observo certo preconceito cultural com a palavra ‘câncer’. Não se fala nela com medo de atrair a doença. Precisamos falar sobre o assunto”.

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