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Flashes sobre a Rua Ramalhete dos anos 1960

As serenatas

Mais à noite costumavam haver as serenatas. Cândido explica que Tavito fazia muitas na Rua Ramalhete: “A menina não descia, apenas dava um sinal de que estava ouvindo ao piscar a luz do quarto”. Maria Letícia Orsini, também moradora da rua à época, tinha 13 para 14 anos, mas acompanhava pouco as serenatas: “Meus pais eram severos, só podia ouvir as serenatas de Tavito pela greta da janela”.

O olhar de rapina

A quem Tavito se refere na música sobre a Rua Ramalhete? Mariza acredita que “é possível que grande parte da letra tenha sido sobre o nosso namoro”. Cândido tem outra versão: “Havia uma moça um pouco mais nova que a nossa turma. Era linda, Tavito se apaixonou, mas não tinha chance nem de conversar com ela, porque o pai era uma fera. Então, ele ia até o Sagrado Coração de Maria para observá-la, por isso cita na música ‘no muro do Sacré-Coeur, de uniforme e olhar de rapina’”, conta. Cândido acredita que grande parte da letra é dirigida a essa menina, “mas as minhas amigas discordam, achando que a letra toda é para elas, por isso a citação à rua e seus ramalhetes, ou seja, as 14 moças que lá moravam”.

O único prédio

A Rua Ramalhete mudou muito ao longo das décadas: “Sobraram apenas duas casas, o resto são prédios modernos. A casa da esquina com a Rua do Ouro foi muito modificada, mas ainda existe. A casa em frente a essa só tem uma grade alta no lugar de um muro baixinho, a que está ao lado era mais recuada em relação ao passeio”, explica Cândido Fernandes.

Mariza viveu no único prédio da rua à época, deixou Belo Horizonte, mas voltou à cidade em 1985: “Queria morar na Serra, pois era um bairro que eu conhecia”. A historiadora morou na Rua Angustura por um tempo, até que teve uma oportunidade de ouro: “Em 1996, voltei a morar no mesmo prédio daquela época por acaso, no apartamento de baixo do qual eu vivia. O proprietário do lote era dono do apartamento, ficou viúvo e me ofereceu-o com ótimas condições”, conta. Mariza pensou se deveria voltar a morar no mesmo lugar, mas não perdeu a chance: “Morar aqui não me pesa, não tenho nenhuma ligação nostálgica com aquele período. A vida hoje é outra, cada coisa no seu tempo”, defende-se.

O prédio fica na esquina com a Rua Estevão Pinto e está sendo restaurado “também pela compreensão da importância do estilo modernista na história do patrimônio edificado de Belo Horizonte”. Segundo Mariza, o prédio é de 1948 e foi elaborado por alunos de Oscar Niemeyer que trabalhavam na Pampulha.

O significado de rua

Maria Letícia resume aquele período: “Foi uma época muito romântica, ficávamos conversando na rua, uma coisa tranquila, inocente e pura”. Stael complementa fazendo um comparativo com os tempos atuais: “Fico pensando no que a rua significa para as pessoas de hoje e daquela época. Isso mudou muito, hoje ela é apenas uma via de acesso rápido, você nem pode ficar parado no portão que corre risco de assalto”. Na opinião dela, as pessoas tinham o domínio da rua, “algo que se observa hoje apenas nos grandes condomínios fechados. Chegava quem quisesse e ia entrando, lembrava o interior. Havia uma coesão, uma amizade entre as pessoas”.

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