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Barbearia do Samuel, um patrimônio da Serra

Desde que deixou de ser uma reunião de chácaras na 1ª (e parte da 8ª) seção suburbana de Belo Horizonte, a Serra mudou muito. Vieram ruas, carros, casas, prédios, pessoas… E a vida em nosso bairro se modificou por completo. Porém, algumas coisas permanecem da mesma forma há várias décadas. Uma delas se localiza na Rua do Ouro, 594, no quarteirão entre as ruas Monte Sião e Chefe Pereira.

A Barbearia do Samuel tem como proprietário o simpático senhor Samuel Gonçalves de Lima, 80 anos, conhecido pelos frequentadores e amigos como Samuca ou Samu, os apelidos mais comuns segundo ele próprio. “Não tenho a mínima ideia de quantas pessoas atendi nesse tempo todo, nunca fiz um levantamento. Tenho clientes que utilizam meu serviço desde o início”.

Ele lembra que já atendeu crianças que hoje são conhecidos políticos e artistas, como o violonista e compositor Marcus Viana: “Barbearia é um trabalho direto com a pessoa, você acaba criando um compromisso e fazendo parte da vida da clientela, tornando-se amigo dela. Eu acho que a minha relação com quem utiliza o serviço é muito boa, a frequência é ótima”, afirma.

Samuel coleciona amigos desde 1º de outubro de 1961, há quase 57 anos. Poucos meses antes, em março ou abril, ele decidira deixar em definitivo a pequena Angueretá, um distrito de Curvelo (fica a 137 km de Belo Horizonte), para ter um emprego formal: “Na minha cidade eu trabalhava junto com a família, para servir a casa. Vi um caminho de começar a trabalhar com cabelo na minha cidade e depois me mudar para Belo Horizonte”.

Mas onde Samuel aprendeu a arte da barbearia? “Quem me ensinou foi meu pai, Antônio Gonçalves de Lima, que nas horas vagas cortava cabelo. Isso fica impregnado na gente”. Quando chegou a BH pela primeira vez, antes de decidir ficar em definitivo, Samuel trabalhou com outro serviço por uma semana. “Desde que optei por morar aqui, trabalhei em duas barbearias, como funcionário, antes de vir aqui para a Rua do Ouro”.

Foi quando ele assumiu a barbearia em que trabalhava: “Quando eu cheguei aqui havia um proprietário, o Milton, que morava na região. Ele soube que eu estava em Belo Horizonte e me convidou para trabalhar com ele”, lembra Samuca. Em poucos meses, o antigo dono decidiu mudar de ramo comercial e vendeu a barbearia para Samuel. Assim, ele ficou como único responsável pelo estabelecimento, inaugurado poucos anos antes: “Tenho alguns documentos de compra de equipamento datados de 1958”.  Desde então, a Barbearia do Samuel mudou pouco em seu aspecto físico: “Fiz algumas pequenas modificações, como colocar lambri nas paredes”. Segundo Samuca, as cadeiras continuam idênticas mesmo após quase seis décadas: “São peças originais. A primeira foi comprada em 1961, quando eu vim para cá só havia uma. Depois comprei a segunda em 1962 e a terceira um ou dois anos depois”, recorda-se o proprietário.

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