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Autismo: não tenha medo de quem é diferente

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Você está no supermercado e de repente uma criança começa a fazer birra. Aquilo te incomoda e você fecha a cara. Saiba que essa criança pode ser autista e estar tendo uma crise. “Não se deve julgar que ela é mal-educada, pois você não conhece todo o contexto”, explica a jornalista Selma Sueli, 58 anos, autista que descobriu sua condição aos 53 anos.

Foi a filha, Sophia, quem deu o pontapé inicial para o diagnóstico da mãe: “Desde que minha filha nasceu, percebi que ela tinha uma inteligência à frente dos demais, mas havia algo diferente. As pessoas cobravam dela um aprendizado linear, fazendo-a sofrer e ter crises”. Sophia foi diagnosticada aos 11 anos com Síndrome de Asperger, hoje enquadrada no autismo leve. “Enquanto conversava com psicólogos e psiquiatras, percebi as mesmas dificuldades em mim, mas deixei de lado. Aos 18 anos, a Sophia me sugeriu procurar um especialista. Fui para provar que ela não tinha razão e me dei mal (risos)”.

Selma constituíra família e trabalhava, mas sua condição resultou em sofrimentos na vida: “Percebia minha inadequação com o mundo. Mas, como a deficiência não era visível, as pessoas me cobravam atitudes padrões”. Desde criança, Selma fez muito esforço: “Ia às festas da escola, chegava em casa e vomitava, não conseguia ver ninguém por 2 ou 3 dias. Tentava fazer o que as outras pessoas faziam e queriam que eu fizesse, voltando para casa eu desabava. Como, às vezes, não segurava, fui rotulada de nervosa e sem esportiva, mas minha crise era por uma desorganização social e sensorial. O diagnóstico foi libertador, pois me vi no direito de ser quem eu era”.

Idealizadora do site O Mundo Autista e com livros publicados, Selma explica que o autismo é uma condição neurológica em que o indivíduo tem percepção sensorial, interativa e cognitiva diferentes das pessoas consideradas no padrão. “No Transtorno do Espectro Autista (TEA) há o grau leve, meu caso e da Sophia, moderado e severo. São três cérebros que processam as informações de maneira diferente. O que define o grau do autismo é o nível de suporte que a pessoa necessita ter da sociedade”.

Selma afirma que o autista severo precisa de maior ajuda: “Ele demora 2 vezes mais para processar uma informação e, quando vai comunicar, não tem os elementos adequados. As pessoas acham que ele está no mundo dele, sem entender nada. Imagine a dificuldade de alguém que está tentando dizer que está presente, mas não interage na forma padrão. Podem existir também maior ou menor sensibilidade ao toque e movimentos repetitivos”. Já o autista moderado tem maior facilidade de aprendizado por causa da questão cognitiva, não tão prejudicada. “Mas ele ainda tem dificuldade de comunicação e precisa aprender habilidades sociais para se relacionar”.

O autista pode se dar bem na área de exatas, mas também tem sucesso nas ciências humanas e sociais, por exemplo: “Quando o autista se interessa por algo, ele tem o hiper foco, criando uma expertise”. Outra característica é a inteligência fluida, capacidade de raciocinar e resolver problemas: “Autistas leves que gostam da área de exatas geralmente trabalham com Tecnologia da Informação (TI), pois verificam detalhes e informações repetitivas de forma perfeccionista”.

Selma te convida a refletir com um recado: “Gente é gente, seja qual for a maneira pela qual ela se comunica. Todo mundo tem uma missão e algo a ensinar, inclusive quem tem deficiência. A diferença traz a possibilidade da criatividade e é ela que faz a humanidade avançar. Então, não tenha medo do diferente”.

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