A música na vida do médico José Carlos Lassi
Num primeiro momento, notas musicais e medicina parecem atividades distintas. Não para o Dr. José Carlos Lassi, que conseguiu unir ambas em sua rotina. Nascido em Patrocínio e morando na Serra há mais ou menos 20 anos, José Carlos veio com a família para Belo Horizonte aos dez anos, em 1964, pois a cidade oferecia mais oportunidades de estudo e de emprego para os pais. “Outro motivo é que meu tio-avô, Oswaldo Pieruccetti, foi designado prefeito de Belo Horizonte [1965-67]”, explica. Ainda em Patrocínio, José Carlos Lassi já tinha relação com a música: “Perceberam em mim a vocação para cantar muito cedo”.
O médico e músico conta que seus pais o colocaram, aos seis anos, numa aula particular com uma professora de canto lírico e popular: “Dona Marcelina Otero me ensinou muitas cantigas espanholas, como boleros e valsas”. O jovem Zé Carlos Lassi também participou de programas de calouro em Patrocínio, ganhando muitos prêmios. Foi também a programas de auditório em Belo Horizonte, nas rádios Itatiaia e Inconfidência e na TV Itacolomi. “Não cheguei a gravar na época, pois as excelentes escolas públicas de Belo Horizonte me exigiam muito estudo. Foi um período complicado para a música, pois acabei fazendo medicina, ficando a música restrita a casas de amigos e parentes e ao Minas Tênis Clube”.
Com o passar dos anos, José Carlos não teve como escapar: “A música entrou com uma força muito grande. A partir daí tive uma banda, chamada Dr. Jekill e Mr. Hyde em alusão a O Médico e o Monstro, que tocou na Livraria Status, em frente onde hoje é o McDonalds da Savassi”. Foram vários finais de semana durante cinco anos num “palco muito nobre onde se apresentavam Toninho Horta, Juarez Moreira, entre outros”.
José Carlos Lassi lançou quatro CDs, o último em 2015. Dois deles foram com a banda: “Como tínhamos pouco dinheiro para produzir o material, tivemos de gravar as 14 músicas de primeira, sem errar. É um CD que prezo muito, tem músicas minhas e releituras internacionais, um repertório mais vintage, relacionado a canções dos anos 1950 e 1960: Tom Jobim, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Julie London, Chet Baker etc.”.
Outro CD importante que o médico gravou foi José Carlos Interpreta Pacífico Mascarenhas: “Ele fez parte da Bossa Nova e foi ao primeiro encontro do que seria o movimento, estando ao lado de Nara Leão, Tom Jobim, Roberto Menescal etc. Pacífico é meu amigo e me apresentou os grandes músicos brasileiros”.
A música se tornou profissional para José Carlos Lassi, num primeiro momento, por causa da flexibilidade de horários. Mas o tempo ficou escasso quando ele foi aprovado num concurso da prefeitura para médico, pois a carga horária passou a ser fixa. Apesar disso, Zé Carlos sabe bem a importância da música para o ser humano: “Aos 75 anos, minha mãe começou a desenvolver Alzheimer e, no segundo ano, já não tinha mais lembrança dos nomes dos familiares. Ela vinha passar férias comigo, e a única coisa que poderia fazer com ela era cantar. Eu começava a tocar as ave-marias no violão em ré, mas ela desaprovava. Não era o tom dela. No tom certo, cantava em latim sem errar nenhuma palavra, isso com dez anos convivendo com a doença. A música naturalmente faz parte do bem-estar coletivo e individual, da saúde mental e física das pessoas”.