“As árvores deixam a cidade mais humanizada”
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O objetivo de termos uma Belo Horizonte cheia de verde está ficando mais próximo, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Conversamos com o professor Fernando Vale, do departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, que argumenta sobre a principal condição para uma árvore se desenvolver com sucesso: “O ideal é ter a espécie correta plantada no local certo, mas o contrário é o mais comum, aí é questão de tempo para ocorrer a queda”.
O professor afirma que exemplos de plantios equivocados são facilmente percebidos: “Árvores cujas raízes levantam a calçada e podas em formato de V ou estilingue por causa dos fios, o que é fora do padrão. A árvore é pesada e perderá o equilíbrio. Se ela cresceu num lugar sombreado, como um prédio, e está toda torta, pois precisou se inclinar na direção da luz solar e por isso está frágil, também tem risco de cair. Nessas situações, o melhor caminho é a supressão”, afirma o especialista, que acrescenta: “Se a árvore foi atacada por algum organismo xilófago (cupins), tem que ser suprimida”.
Sobre a erva-de-passarinho, o professor Fernando Vale faz coro à prefeitura de que “o único tratamento possível é a poda”. Entretanto, ele destaca que a demanda da PBH é gigantesca e não há pessoal suficiente: “Como erva-de-passarinho não é problema de queda iminente, os técnicos acabam tendo outras prioridades”.
Claro, acompanhar a saúde das árvores não é tão fácil: “É preciso aferir a sua fitossanidade, ou seja, saber se ela está sadia e livre de pragas. Se a erva-de-passarinho é facilmente detectável, por outro lado é difícil perceber quando a árvore está sendo atacada por besouro de broca, que é interno”. Fernando Vale sugere os plantios no período chuvoso, o que a prefeitura faz: “BH tem uma estação seca muito longa, que vai de maio até agosto/setembro. Se você plantar uma árvore nesses meses e não aguá-la com vários litros, a chance de a muda morrer é muito grande”.
Ideal mesmo, segundo o professor, é criar bolsões de área verde, como os parques: “Qualquer árvore isolada tem o seu desenvolvimento dificultado. Além da maior incidência dos ventos, se ela for plantada num local cimentado e muito duro como a calçada, com baixa infiltração de água no subsolo, as raízes serão superficiais e não conseguirão muita água e nutrientes, fragilizando a árvore a ponto de fazê-la cair. Quando elas crescem perto umas das outras, a estrutura é mais sólida e confiável contra quedas”.
Fernando Vale afirma que é possível suprimir, retirar o toco e plantar uma nova muda em sequência, mas para isso é necessário “ter uma equipe grande e multidisciplinar com todos os equipamentos, o que não ocorre. Arrancar o tronco e as raízes de uma árvore não é simples, principalmente em calçada, pois pode afetar o sistema de drenagem da rua e o asfalto”.
Por fim, o professor avisa: “Muitas pessoas veem a árvore como prejudicial porque ela cai, levanta a calçada, joga folha nas calhas e suja o teto dos carros. Isso é irrisório perto dos gigantescos benefícios que uma árvore correta plantada no local certo traz. Quanto menos arborizada uma cidade, mais quente e menos humanizada ela será, pois todo mundo precisa do verde. Um ambiente completamente cimentado não é muito feliz”.