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Carnaval na Serra: a história do Cacarecos

O Carnaval de Belo Horizonte tem uma rica história, mas viveu momentos áureos e de esquecimento. Nos últimos anos, vem ganhando força e voltando à velha forma. Para se ter uma ideia, em 2017 o Carnaval de BH movimentou 3 milhões de pessoas nas ruas, com mais de 350 blocos, segundo a Empresa Municipal de Turismo (Belotur). E a Serra já contribuiu com a grande festa há quase 60 anos.

O Cacarecos da Serra

Na virada de 1950 para 1960, Belo Horizonte respirava o Carnaval por meio dos blocos caricatos. Nos bairros havia dezenas deles, “só na Floresta eram pra mais de 20”, segundo Gerson Alvim Pessoa, um dos três fundadores do Cacarecos, conta em seu livro de memórias. Um deles, os Bocas Brancas da Floresta, chamou a atenção dos irmãos Nelson e Ronald Rezende de Carvalho, bem como de Gerson.

Assim, em março de 1959, o trio resolveu fundar o Cacarecos da Serra “com o objetivo de promover a alegria no bairro, que era muito parado na época”, explica Ronald, que atualmente reside em Montes Claros, no Norte de Minas.

Muitos podem achar que o bloco era apenas diversão de jovens entre 17 e 18 anos, mas eles levavam a tarefa a sério: os ensaios eram às segundas, quartas e sextas e duravam 3h, ocorrendo mais precisamente na Rua do Ouro, em frente à Mello Mercearia, ao lado do antigo Posto Esso. “Com a inauguração da Padaria Etna – hoje Santíssimo Pão -, na confluência das ruas Palmira, Amapá e Ouro, os ensaios foram direcionados para lá”, lembra Ronald.

A preparação durava todo o mês de janeiro e parte de fevereiro, período no qual os 45 integrantes se dedicavam quase que exclusivamente ao Cacarecos da Serra. As reuniões eram realizadas na Rua Bambuí, 205, casa dos irmãos Ronald e Nelson.

Gerson, em seu livro de memórias, relata a importância do bloco: “Tomei segunda época (hoje se chama recuperação) em matemática e fui fazer aulas de reforço […] Mal e mal eu ia às aulas, não estudava direito em casa, pois o bloco me requisitava, absorvia todo o meu tempo. Eram tamborins a serem empachados para os ensaios noturnos e reuniões infindáveis para definição da decoração do caminhão que transportaria o bloco. Enfim, o tempo era pouco e coisas essenciais tinham prioridade. O bloco era essencial. Fui para as provas sem entender muito a álgebra. Consequência: bomba. Perdi o ano por uma matéria. Mas o Carnaval estava salvo”.

Durante os desfiles, o Cacarecos da Serra chegou a ganhar o primeiro lugar no Carnaval da prefeitura em 1965, “um prêmio apenas simbólico”, segundo Ronald. “Ganhamos também o prêmio do Jornal Última Hora”, se recorda.

Com o passar dos anos, porém, os integrantes foram se distanciando aos poucos. A farra do Cacarecos da Serra se encerrou no final dos anos 1970 – não se sabe o ano certo -, “porque as pessoas foram desanimando”, afirma Nelson, que hoje mora em Miguel Pereira/RJ. “A gente estava virando rapaz e passou a ter outros interesses. Marcávamos uma reunião e quase ninguém aparecia. Aos poucos fomos deixando de lado e se afastando, o Cacarecos da Serra acabou de uma hora para outra”, resume.

 Nesse período, a maioria dos integrantes do bloco morava em Santa Efigênia e eles resolveram levá-lo para o bairro vizinho, dando prosseguimento à história do bloco, que passou a se chamar Cacarecos de Santa Efigênia. Mas a Serra não pode se esquecer que um dia foi animada por jovens no Carnaval. 

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