Crescer, muitas vezes dói…
Por Elza Maria Mourão Vasconcelos – Psicóloga, Psicopedagoga e diretora da Muidinhos, Escola de Formação Integral
Diante do filho recém-nascido, tão pequeno e indefeso, muitos pais, encantados e enternecidos, prometem a si mesmos resguardá-lo de todo sofrimento e frustração.
Essa é uma ilusão amorosa bem intencionada, mas representa uma postura equivocada e prejudicial à criança.
A primeira grande dor o bebê já enfrentou ao nascer, quando precisou deixar o ambiente perfeito que o abrigou durante a gravidez. Nesse local aquecido e protegido, a vida transcorria sem grandes sobressaltos e esforços, com todas as necessidades do bebê satisfeitas a tempo e a hora.
De repente… o desconforto das contrações, a passagem pelo apertado canal vaginal ou pelo corte estreito da cesárea; o frio, a luz, a necessidade de respirar e o desamparo diante de um mundo imenso e desconhecido!
O bebê precisa encarar a dor do parto para viver. Não enfrentá-la implicaria em sua morte.
Nos dias seguintes ao nascimento, outras grandes aflições para o bebê: a sensação de fome e a espera, mesmo curta, pela oferta do peito ou da mamadeira; as cólicas, as trocas de roupa, a solidão do berço…
A amamentação regular, os cuidados adequados e o aconchego amoroso oferecido pelos pais vão amenizando a adaptação da criança ao mundo ainda restrito ao contexto familiar.
Aos poucos, outras pessoas e ambientes começam a fazer parte da vida do bebê. Muitas experiências novas, às vezes dolorosas, vão sendo vivenciadas: as primeiras viroses, o desmame, a introdução da alimentação sólida, de textura e gosto estranhos, e… o retorno da mãe ao trabalho!
Ah, essa mãe que nos primeiros meses tinha uma disponibilidade infinita para o filho, aos poucos precisa retomar seus afazeres, interesses e horários habituais, que entram em choque com as necessidades urgentes e exigentes do bebê. Dói muito à criança ver a mãe sair de casa, cheia de culpa, para cumprir as demandas da vida profissional ou satisfazer suas necessidades pessoais!
Aos poucos, o bebê cresce e adquire muitas habilidades importantes: aprende a se locomover e falar; descobre o prazer em brincar, se torna mais independente, esperto e teimoso! No dia a dia, frustrações corriqueiras podem gerar birras terríveis: o brinquedo que não foi comprado na visita ao shopping, a guloseima fora de hora que lhe foi negada, o banho que precisou tomar apesar da vontade imensa de continuar brincando, a hora de dormir que precisou ser respeitada, o acesso à cama dos pais que foi negado à noite…
Escola infantil
Em meio a alegrias e frustrações, o tempo passa. O mundo de casa se torna limitado para a criança. Chegou a hora do ingresso na escola infantil, que vai ampliar sua vida social. Antes de descobrir o prazer das novas experiências e do aprendizado proporcionado por uma boa escola, ela precisará enfrentar a dor de se separar das pessoas e do ambiente que, até o momento, foram suas referências de cuidado, afetividade e segurança.
Em um ambiente familiar harmonioso, as pequenas e grandes dores da infância se curam com a ajuda de pais presentes, amorosos e firmes. Frustrações são necessárias e impelem a criança para novas experiências e aquisições. Se não acontecem desequilíbrios, a criança não é incentivada a buscar estratégias para enfrentar os desafios que o mundo real impõe a todos nós. É assim que os seres vivos evoluíram ao longo da história e é assim que a criança será incentivada a crescer e desenvolver.
Crianças que são poupadas das frustrações se tornam despreparadas para a vida e se transformam em adultos-bebês em busca do mundo ideal perfeito, perdido ao nascer. Nesse grupo, muitos enveredam pelo caminho das drogas, que alimentam essa ilusão.
As que são incentivadas a crescer e enfrentar os desafios da vida aprendem que viver às vezes dói, mas que o tempo e os recursos de que dispõem curam dores e permitem a elas… seguir em frente!