Do que uma associação de moradores precisa?
Doar o próprio tempo em prol da coletividade não é fácil e requer força de vontade. A trajetória de Aloysio Barra, hoje com 80 anos, à frente da Sociedade dos Amigos da Serra (SAS), começou de forma inusitada: “Morava na Serra desde 1978 e participava das ações da Igreja São João Evangelista na época do Pe. Tarcísio, que se tornou meu amigo”. Ele conta que, em 1994, estava em casa quando a campainha tocou: “Era o Onivaldo Gomes Leão, presidente da SAS. E disse que, numa das reuniões da entidade no salão paroquial, o Pe. Tarcísio havia pedido que me procurassem, pois ele me indicara como tesoureiro. E já me entregou um dinheiro em mãos. Fui eleito sem sequer me informar sobre o projeto!”.
Mesmo sem saber o que lhe esperava, Barra assumiu a função e, na primeira reunião, conheceu outros membros da SAS como Pedro Horta, Lúcia Casasanta e França. Naquela época, os encontros se davam na casa dos integrantes ou no salão da igreja. “Ao final das missas na S.J. Evangelista e na Paróquia de Santana, eu subia ao altar e falava às pessoas sobre a associação. Elas me conheciam, tinham confiança em mim, pois estava presente no dia a dia das igrejas e do bairro. Chamávamos a população também no Olympico, no Minas e em outros lugares”.
Foi essa proximidade que resultou na quebra de um recorde: “No Orçamento Participativo (OP) angariamos a presença de mais de 230 moradores na votação que permitiu a canalização do Córrego da Serra, que inundava o que hoje é a Rua Bento Salles, ex-Américo Scott, esquina com Monte Alegre. Gente de todo o bairro compareceu para ajudar, pois um alagamento muito grande havia enchido as garagens dos prédios”.
A mudança para a sede na 127ª Cia. da PM teve participação ativa de Barra, já presidente da SAS – ficou entre 1995/99. “Eu questionei o diretor do Parque das Mangabeiras sobre o motivo de uma casa na esquina da Rua Trifana com Av. Bandeirantes estar meio abandonada. Conseguimos que a prefeitura autorizasse a ida da PM para o local, mas para isso era preciso reformá-lo”. Ao lado do Tenente Michalik, ambos percorreram várias empresas pedindo doações de material de construção, obtiveram a mão de obra e um arquiteto para elaborar o projeto da 127ª Cia. da PM. “Com a inauguração, solicitei um espaço para erguermos a salinha que ficou sendo a nossa sede”.
A parceria com a PM, que começou em 1993, continuou ativa, dando origem ao policiamento comunitário. “Chegamos a comprar carros – o primeiro foi um Gol – e outros equipamentos, além de doar 35 cestas básicas mensais para cabos e soldados. A população confiava no policiamento e em nosso trabalho, cuja receita vinha da coleta de mensalidade junto aos moradores”. Cândida Machado, hoje com 97 anos, era uma das responsáveis pela função: “Eu passava de casa em casa todo mês para pegar as contribuições, fazia o relatório e entregava junto do dinheiro”. Ela guarda com carinho um troféu recebido em 2008 em homenagem aos serviços prestados.
Barra tinha uma rotina pesada de trabalho durante o dia e a associação à noite. Ele sabe da importância de uma entidade do tipo: “É a representante do bairro na prefeitura e tem força política para reivindicar soluções. Para fazer parte disso, você precisa gostar de circular pelas ruas, conversar com as pessoas, participar dos eventos e ser de fácil acesso para ouvir as demandas. Infelizmente, a gente foi se afastando por causa da idade e não houve uma renovação no quadro de membros. A Serra precisa de uma nova associação, torço por isso!”.