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Histórias da minha avó

Por Marilurdes Nunes

Graduada em jornalismo pela UFMG, prestou concurso público para tradutora juramentada em espanhol, tendo exercido essa profissão por 34 anos. Sempre gostou de escrever e, aposentada, é escritora de livros infantis e infantojuvenis.

Minha avó era filha de português com italiana, nascida no Brasil. Muito expansiva, fazia amizade com todos. A vida não foi fácil para ela. Casou-se aos 15 anos com um rapaz honesto, mas pobre. Pariu 23 filhos, criou 9. Naquele tempo, muitas crianças morriam logo após o parto ou nos primeiros meses. O dinheiro era escasso. Vovô era mecânico. Sabia consertar qualquer tipo de máquina: carro, trator, caminhão. Nas poucas horas de folga, plantava horta para ajudar na alimentação da casa e criava galinhas. Mesmo com a vida dura, vovó estava sempre de bom humor. Adorava contar histórias e piadas.

Lembro de uma de suas piadas: “Uma mulher foi com a amiga à igreja para se confessarem. Estavam as duas na fila. Na frente delas, uma artista de circo. Quando a artista se ajoelhou no confessionário, contou para o padre qual era a sua profissão. Após a confissão, o padre lhe pediu que mostrasse alguma coisa que ela fazia no circo. A artista, então, plantou uma bananeira, para o espanto de quem estava esperando para se confessar. As comadres ficaram horrorizadas.

Uma disse à outra: – Comadre, vamos embora. Não consigo cumprir a penitência que o padre está dando hoje!”.
Aí vovó dava uma gargalhada que balançava a barriga (era bem gordinha). Impossível não rir também!
Vovó rezava muito. Na parede, a estampa de Dom Bosco, de quem ela era muito devota. Sempre fui muito impressionada com a amizade que ela tinha com Dom Bosco. Como ela falava do santo, a gente via que eles eram amigos de longa data.

A conversa/oração era muito animada. Vovó contava para Dom Bosco seus problemas, pedia ajuda, agradecia as graças alcançadas. Certa vez, estando o dinheiro muito curto, vovó se sentou perto do santo: – Olha, Dom Bosco. Você vê que eu não reclamo de ser pobre. Nasci pobre, estou acostumada com essa falta de dinheiro. Mas o senhor tem de entender que, hoje em dia, os pobres não podem mais andar como no seu tempo, ninguém anda mais de pés descalços. Também a roupa não pode ser rasgada ou remendada. Preciso comprar roupa íntima. Escuta, Dom Bosco, vou comprar uma tirinha de loteria porque senão o senhor não tem como fazer o milagre, né? Aí o senhor conversa com Deus e explica para Ele a minha situação. Tenho certeza de que serei atendida.

Cumprindo sua parte, vovó comprou a tira de loteria. Foi premiada. Ganhou exatamente a quantia necessária para adquirir o que ela tinha pedido ao santo. Quando os seus filhos souberam, ficaram chateados. Disseram que, já que ela ia pedir, porque não um bom dinheiro para eles saírem do aperto financeiro. Mas vovó pensava diferente: se cada um pedir somente o que está mais precisando, fica mais fácil para Deus atender todo mundo! Assim era vovó: alegre, generosa, de bem com a vida.

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