Ione de Laurentys: quando a arte significa vida
Do barro virgem a peças com histórias únicas. É essa transformação a que se dedica a ceramista Ione de Laurentys há 40 anos. Nascida em Governador Valadares, o primeiro contato da artista com argila foi na olaria de um tio, que “fazia bichinhos de argila para a gente”. A mudança para Belo Horizonte ocorreu porque a mãe, viúva, queria que toda a família estudasse: “Na minha geração tinha que ser professora primária, então fui dar aula”.
Ione de Laurentys começou a enveredar pela arte em razão de um fato triste: “Com a perda de minha mãe, resolvi investir na arte como forma de extravazar”. Um ponto importante foi uma professora de cerâmica que morava perto de sua casa: “Passei por lá, entrei e gostei”. A partir daí, Ione começou a pesquisar sobre o assunto e a fazer cursos. Comprou um forno pequeno e fazia peças para dar de presente às amigas: “Elas passaram a comprar para dar de presente e foi tudo dando certo. Hoje estou vendendo peças para os filhos dos meus clientes”.
Ateliê na Serra
Moradora do bairro Anchieta, a relação de Ione com a Serra começou há 20 anos: “Meu ateliê sempre foi no bairro, o primeiro era na Rua Aguapeí, onde alugava uma casa. O proprietário pediu o imóvel e saí em dois meses, em dezembro de 2012”. Ione de Laurentys contou ao marido, que lhe disse que estava na hora de parar de trabalhar: “Quando ouvi isso comecei a chorar, no que decidimos procurar outro imóvel”.
Foi aí que Ione encontrou a casa onde é seu atual ateliê, na Rua Corinto: “Os vizinhos são maravilhosos, sempre vem um com biscoitos para tomar um cafezinho e bater um papo, mesmo sem ter aula comigo”. Segundo ela, a Serra tem esse aconchego de interior: “Passo frutas para os vizinhos pelo muro. Amo a Serra”.
Ione adaptou muito bem a casa. Cada cômodo abriga uma parte do processo de confecção das cerâmicas e dos esmaltes, os quais ela mesma faz: “Poderia comprar pronto, mas tenho paixão por prepará-los”. A ceramista colhe folhas de castanheira na Avenida do Contorno e as usa como base para o esmalte: “Cada peça é única, pois há variação de cores, pode sair mais azulado ou esverdeado”. Ione ainda tem um quartinho nos fundos do imóvel onde o barro é trabalhado com betoneira e maromba: “Um rapaz é que prepara a argila, por causa da minha idade”, explica.
Ione tem várias técnicas para confeccionar as cerâmicas, dentre elas a queima de raku (técnica japonesa em baixa temperatura), cujas peças são decorativas, e também em alta temperatura, na qual a peça pode ir ao microondas e é atóxica.
No ateliê, a artista oferece cursos para quem deseja se profissionalizar ou apenas quer se distrair. Ela também trabalha com pessoas com transtorno mental. “Ensinar arte é inexplicável e faz bem para as pessoas. Já tive alunos que não davam uma palavra por causa da depressão e agora contam piada. Minha maior turma é de pessoas com mais de 50 anos, mas também atendo jovens e até crianças”. Ione acrescenta que alunos que tinham dificuldade no início, hoje fazem peças lindas: “A criação vem de dentro da gente, cada um tem sua alma”.
Entre os dias 29 de novembro e 2 de dezembro, Ione e mais 37 ceramistas estarão na 33ª Feira de Cerâmica de Minas Gerais, no Mezanino do Mercado Central, para mostrar diversas técnicas. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas no local. As vagas são limitadas.