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Morador registra corujinha vivendo em dreno

Em 10 de outubro, Bruno Moura, que reside na Rua Amapá, levou um susto: “Depois do almoço, fui à janela e tomei um ataque que nem vi de onde veio e me deixou um corte na cabeça, até cai para trás e torci o joelho!”. No dia seguinte, a confirmação: o animal se tratava de uma coruja.

A janela do quarto do morador fica a 2 metros de um dreno no paredão de concreto armado (cortina atirantada) que forma a escadaria que liga as ruas Amapá e Senador Pompéu, onde a coruja está vivendo: “Ela está com filhote e fica voando de lá para uma palmeira. Tem hora que esqueço e chego na janela, aí tomo uma paulada que dói bastante. Já tive a minha cabeça e testa arranhadas, a coruja até pulou no canto do olho, que ficou vermelho e nem consegui abrir por três dias. Ela vem voando, plana um pouco e ataca com as unhas, tanto de dia como de noite”.

Em busca de informações, conversamos com o ornitólogo Marcelo Vasconcelos, professor da pós-graduação em estudos ambientais aplicados à fauna da PUC Minas e curador da coleção de aves do Museu de Ciências Naturais da instituição: “É a coruja caburé, um pouco maior e mais pesada que uma rolinha. Essa espécie tem olhos amarelos e variações de coloração com predominância de cinza, marrom, ruivo ou até uma combinação dessas cores. Uma curiosidade é que as penas na nuca formam olhos falsos que servem para afastar predadores. Ela é muito atacada por aves diurnas, que tentam vir por trás enquanto o caburé está dormindo. Porém, ao deparar com os olhos falsos, resolvem atacar pela frente e podem ser capturadas pelo caburé, que é uma ave de rapina como todas as corujas, ou seja, são caçadoras e predadoras”.

A corujinha no dreno está bastante agressiva

Marcelo explica que o caburé costuma atacar na região facial e que isso se deve à presença do filhote e à proximidade da janela com o ninho: “O caburé não é agressivo quando não está reproduzindo. Apenas a fêmea choca os ovos e cuida dos filhotes, o macho só leva comida até três semanas após a eclosão dos ovos”.
Ainda segundo Marcelo, o caburé vive principalmente em áreas semiabertas como cerrado, caatinga, pomares de fazendas, jardins, parques urbanos etc. “Morei na Serra até 1997 e essa espécie não existia no bairro. Uma das explicações é a adaptação desta e de outras aves ao meio urbano, o que é uma boa notícia, pois a cidade fica mais enfeitada e com uma sonoridade diferente”. O fato de o animal estar se reproduzindo significa que já é uma população estabelecida. “Tenho ouvido falar do caburé em outros bairros de BH, mas não é possível afirmar que este veio do Parque das Mangabeiras ou da Serra do Curral, áreas verdes próximas”.

O ornitólogo orienta não manejar o animal: “Não se conhece nenhuma doença transmissível pelo caburé aos seres humanos, mas não sugiro manuseá-lo, pois a coruja é capaz de predar camundongos e vários insetos, que podem ter doenças”.

O especialista faz um alerta e dá uma última sugestão: “É possível que a própria coruja ou os filhotes vivam nesses drenos e reproduzam no futuro. Mas eu aguardaria o final da reprodução em vez de solicitar a remoção do animal [junto à Polícia Militar Ambiental], pois isso vai acarretar a morte dos filhotes ou a perda dos ovos. O tempo de permanência dos filhotes no ninho é de 21 a 29 dias, basta ter um pouco de paciência. Assim que o período de reprodução acabar, sugiro colocar uma tela nos drenos para evitar futuros problemas”. Para mais novidades sobre o caso, acesse o nosso site!

ATUALIZAÇÃO!

O morador informou que os dois filhotes que estavam sendo alimentados no dreno caíram do local. Ele os colocou dentro de uma caixa de papelão perto de uma árvore, numa posição em que a fêmea da corujinha poderia vê-los. Ela chegou a resgatar um deles prontamente!

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