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O amor nos tempos do Facebook

Por Marilurdes Nunes

Graduada em jornalismo pela UFMG, prestou concurso público para tradutora juramentada em espanhol, tendo exercido essa profissão por 34 anos. Sempre gostou de escrever e, aposentada, é escritora de livros infantis e infantojuvenis.

 

 

Shopping. Quatro da tarde. Encontro marcado pelo Facebook. Porta da sorveteria.

Os dois de máscaras. Só assim para entrar no shopping.

Amanda, 15 anos, loura, cabelos compridos, magra.

Ricardo, 17 anos, moreno, sarado, braço tatuado.

Amanda fica na dúvida. Será que é ele? Com a máscara, hesita. Acaba reconhecendo Ricardo pela tatuagem de um dragão chinês no braço esquerdo.

Ricardo também fica na dúvida.

A máscara da garota só deixa de fora um par de olhos por trás de óculos escuros.

Os dois se aproximam.

Nada de beijinhos, apenas tocam rapidamente as mãos fechadas.

Um olha para o outro. Abaixam a vista. Começam a teclar furiosamente:
– Amanda?
– Ricardo?
– Difícil reconhecer com a máscara. Te identifiquei pela tatuagem.
– Também vacilei. E aí? Tudo bem?
– Tudo.
– Aceita sorvete?
– Vai pagar? Tô sem grana.
– Desta vez, pago. Fica me devendo.
– Falou. Será que tem diet? Tô de dieta.
– Não precisa, vc é linda.
– Acho que preciso. Tô gorda.

Param de teclar por um momento. Consultam os sabores.

Ricardo escolhe chocolate. Amanda quer saber quantas calorias tem cada sorvete. Finalmente aponta para o sorvete de limão. Fica olhando gulosamente para o sorvete de chocolate que o Ricardo escolheu (seu preferido).

Ricardo paga. Sentam-se em uma mesa do shopping. Tiram as máscaras.

Olham-se rapidamente. Lambem os sorvetes em silêncio.

Ricardo pensa: – Que gatinha linda!
Ricardo pergunta: – Gostou de mim?
Amanda tecla sinal de positivo.
Ricardo tecla sinal de positivo. Semana que vem de novo?
Amanda tecla sinal de positivo.
Terminam o sorvete em silêncio.
Ricardo, de novo teclando: – Selfie?
Amanda tecla sinal de positivo.

Levantam-se da mesa. Ficam próximos, mas não se olham. Rostos virados para o celular. Sorriso para uma série de retratos absolutamente iguais. Registram o momento.

Colocam novamente as máscaras.

Imediatamente os dois entram em seus respectivos perfis do Facebook, compartilham as fotos com os amigos.

Ricardo tecla carinha sorrindo, coração, carinha sorrindo.
Amanda: carinha sorrindo, coração, carinha sorrindo, coração.
Ricardo tecla: – Valeu!
Amanda tecla carinha sorrindo.

Os dois saem caminhando em direções opostas. Andam sem cuidado, olhos grudados na tela do celular.

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