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O longo caminho até a conquista do S19

A implantação da linha S19 é louvável, mas não foi alcançada da noite para o dia. Desde a reforma da Praça do Cardoso, por meio do Programa de Urbanização de Vilas e Favelas, entre 2005 e 2007, a Prefeitura de Belo Horizonte prometia uma linha de ônibus até a Região Leste. “A revitalização, que removeu centenas de famílias para a construção dos prédios, foi feita exatamente com o intuito de alargar as ruas a fim de permitir a passagem dos ônibus”, lembra Letícia Domingues.

A partir do momento em que a prefeitura prometeu já houve a demanda pela linha, mas as lideranças e moradores, apesar dos abaixo-assinados e reuniões, não conseguiram levar a questão adiante à época. Letícia frisa, porém, que essas experiências anteriores serviram de aprendizado para essa nova investida: “Demorou um tempo até conseguirmos retomar a confiança das pessoas de que agora a linha sairia. Foram ao todo dez anos de mobilização, nós do Tarifa Zero BH também tivemos a solicitação rejeitada no começo”, lembra.

O movimento do qual Letícia Domingues participa teve contribuição decisiva para o desfecho positivo, mas outros atores juntaram forças em prol da causa, como a Associação dos Arquitetos Sem Fronteiras e a Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio do projeto “Diálogos Comunitários”, idealizado pelo MP e voltado para a resolução de conflitos e reivindicações dos próprios moradores junto ao poder público.

“O Tarifa Zero BH entrou no processo em 2016 e tivemos a ideia de fretar um ônibus escolar azul para fazer o trajeto pretendido, a fim de mostrar para as pessoas que a linha era viável e necessária”, explica Letícia. Segundo ela, os dois sábados rodando de graça – o dinheiro para financiar o ato veio de um fundo para o referido projeto – fizeram “muito sucesso, as pessoas ficaram empolgadas. Ao longo do processo coletamos mais de 4 mil assinaturas para o abaixo-assinado”.

O passo seguinte foi organizar reuniões, que aconteceram na Escola Municipal Professor Edson Pisani, no Aglomerado da Serra. “Nos 18 meses de mobilização até sair o teste da linha, tivemos meses em que ocorreram duas ou três por semana”, explica Letícia Domingues.

Cerca de 80 moradores do Aglomerado participaram dos encontros com a BHTrans e o Sindicato das Empresas de Transporte (SetraBH), que inicialmente rejeitaram o pleito do grupo, que pedia ônibus de Vilas e Favelas, a R$ 0,90. “A gente tinha muito medo de rejeitar a proposta da prefeitura (R$ 2,85) e ficar sem linha, mas a comunidade bateu o pé. Demoramos três assembleias para chegar ao consenso de que não dava para ser esse valor”.

Letícia Domingues explica que foi só ao final do processo que o grupo saiu da perspectiva de que as empresas de ônibus forneceriam o transporte: “Passamos a olhar para os suplementares, que têm uma lógica totalmente diferente, já que os ônibus pertencem a pessoas físicas ou a um microempresário”. No final das contas, o meio-termo prevaleceu com a passagem a R$ 1,50, mas o trabalho ainda não acabou. Letícia acredita que há espaço para o aumento do número de veículos – hoje são dois.

O PLANETA SERRA procurou Roberto José Moreira, diretor financeiro do Sindpautras, dono da linha S21, que empresta os ônibus para a S19. “Por enquanto ainda não tivemos lucro nem prejuízo com a nova linha, até porque começamos a operar no fim do ano, no meio das férias, festas e do Carnaval. A partir de março é que vamos começar a ter uma noção de quanto a linha vai gerar, mas a nossa intenção é aumentar para três ônibus. Atualmente, a média de passageiros tem ficado em 1.100 por dia, somando os dois veículos”.

Diante de tantas vitórias, fica o recado para todos nós: é possível se mobilizar a fim de buscar melhorias junto ao poder público. Letícia Domingues sugere alguns caminhos: “A primeira coisa é ter consciência de que terão de trabalhar todos juntos, unindo qualidades e ganhando força. E tudo vai fluindo. Claro que todos precisam ter paciência, pois é um processo de aprendizado. O que nos deu muita força é que em nenhum momento achamos que era impossível, não desistimos nos primeiros desafios, pois o início foi muito difícil”. Quem sabe o PLANETA SERRA não possa ajudar em futuras mobilizações dos moradores da Serra?

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