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O que se fazia na Ramalhete dos anos 1960

Tavito desbravou a Rua Ramalhete, mas ficar vendo-o tocar violão não era a única atividade dos jovens da rua naquela época: “O que mais me marcou foram as horas dançantes que organizava em minha casa, que ficava no número 550 [hoje é um prédio]”, afirma Stael. Seus pais permitiam que as festas ocorressem na grande varanda da casa, mas o pai, que adorava festas, não deixou que sua enorme radiola fosse transportada para a varanda. Mariza resolveu o problema: “A vitrolinha era minha, eu dava aula particular e consegui comprar uma”.

Hora dançante

As festas ocorriam aos sábados mais à tardinha, “todo mundo ficava dançando”, conta Stael, que se recorda de um drinque servido: “A gente pegava guaraná e batia no liquidificador, dava aquela espuma. E botávamos a fruta que quiséssemos, parecia champanhe”, brinca. Mariza se lembra dos sanduíches e espetinhos com azeitona e queijo: “Havia um salaminho que se chamava sacanagem, era enrolado com pimentão. Comprávamos Coca-Cola e havia misturas de crush, um refrigerante da época, com vodca”. O refrigerante era por conta dos rapazes, as moças levavam os salgados.

O ponto alto das horas dançantes, porém, era de fato dançar… “Eu recortava uns coraçõezinhos de papel e colocava o nome dos pares que deveriam dançar juntos”, descreve Stael. A parede da casa dela ficava cheia de corações e, à medida em que chegavam, as duplas iam se formando: “Constrangidos ou não, normalmente eles formavam a dupla que estava nos corações. Daí vem o trecho da música de Tavito ‘o amor anotado em bilhetes’”, explica Stael.

Com o passar do tempo, as horas dançantes foram ficando famosinhas, aparecia gente que morava em outras ruas. “Não havia convites, as pessoas já sabiam quando elas aconteceriam. Foi uma ótima oportunidade de convivência ter aquele tanto de jovens da nossa rua e das outras”, reconhece Stael.

Vôlei

Outra atividade comum na Rua Ramalhete era o vôlei: “Minha mãe teve a ideia de tecer uma rede de vôlei de barbante para brincarmos”, lembra Stael. Depois de uma semana de trabalho, era hora de fixar a rede: “A gente a estendia no poste até a garagem da minha casa. Colocávamos duas pedras na parte de baixo, uma em cada ponta, para esticar a rede. Eram cabeçadas mil, pois às vezes a gente errava os lances e batia nas pedras (risos)”. Stael acrescenta que quem perdia dava lugar a outra equipe, que ficava de fora esperando. “Quando algum motorista vinha devagarzinho, a gente levantava a rede um pouco para ele passar. Foi o vôlei que levou a meninada para a rua, vinha gente de outros locais”.

Música

As reuniões musicais na Rua Ramalhete tiveram fim em 1969 ou 1970, segundo Cândido: “Tavito se mudou para o Rio de Janeiro a fim de seguir carreira. A música sobre a rua foi composta em 1971, após ele tê-la frequentado [foi gravada apenas em 1979]. É muito interessante que, mesmo após 48 anos, a música ainda faça esse sucesso todo”, comenta. A convivência na Rua Ramalhete teve um período curto, porém tão intenso que a imortalizou. Sempre nos lembraremos da rua e seus ramalhetes.

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