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Os detalhes que eternizaram a Rua Ramalhete

Nos idos de 1960, Belo Horizonte ainda não ocupava localidades hoje densamente povoados, como o trecho da Avenida Afonso Pena perto do bairro Mangabeiras. Naquela época, ela só ia até onde hoje é a Praça Milton Campos, tendo sido ampliada entre 1967 e 1969 no trecho até a Praça da Bandeira, inaugurada em 1966. A historiadora Mariza Guerra de Andrade, moradora da Rua Ramalhete àquele tempo e atualmente, resume o que era nossa metrópole: “Uma cidadezinha completamente pacata, atrasada e isolada. De forma debochada uma roça, mesmo tendo sido planejada para ser uma cidade moderna”.

Para se ter uma ideia, a Rua Estevão Pinto ainda não existia na altura da Rua Ramalhete: “Ali passava o Córrego da Serra, [afluente do Córrego das Mangabeiras] que vinha lá da montanha”, explica Cândido Fernandes, economista e professor universitário aposentado pela UFMG, desde sempre morador da Serra: “Havia uma grande erosão, o córrego passava no meio e havia muita pedra”. Mariza tem lembranças parecidas: “Nesse quarteirão ficava uma bica d’água que a gente chamava de ‘cachoeirinha’. Não havia nada, era uma montanha com misto de Cerrado e Mata Atlântica, as pessoas desbravavam esse mato rumo a Nova Lima”, explica. Segundo o geógrafo Anderson Borsagli, o córrego foi canalizado entre 1963 e 1966.

A Rua Ramalhete, hoje com seis quarteirões a partir do bairro Anchieta até a esquina com a Rua do Ouro, atravessando a Afonso Pena, naquela época tinha apenas um quarteirão: “Era uma via que ia do córrego até a Rua do Ouro, calçada de paralelepípedos e sem fluxo de automóveis em razão da barreira natural do córrego”, recorda Cândido. Por causa disso, as pessoas podiam brincar e até se sentar no meio da rua.

Inspiração musical

A Rua Ramalhete tinha tudo para ser uma via comum da Serra. Porém, um jovem artista mudaria seu status para sempre: “Tavito morava na Rua Ribeiro de Oliveira, que tinha um quarteirão, entre Pirapetinga e Estevão Pinto, quase em frente ao Olympico Club. É a esse clube da esquina que ele se refere na música sobre a Rua Ramalhete, as pessoas acham que é o de Santa Tereza, do Milton Nascimento”, avisa Cândido.

Tavito costumava fazer o trajeto até a Rua Ramalhete quase todos os fins de tarde por uma simples razão: “O que realmente o atraía eram 14 moças entre 14 e 18 anos, muitas delas cantavam e tocavam violão. Tavito era o maior frequentador da rua, uma dessas moças era sua namorada, todas eram apaixonadas por ele”, explica Cândido.

Com o passar do tempo, a Rua Ramalhete se tornou ponto de encontro: “A nossa turma ficava encostada no murinho baixo da casa de uma amiga esperando Tavito chegar com o violão e tocar”, se recorda Stael Guimarães de Mattos, também moradora da rua na época, que acrescenta: “Foi quando tocava Beatles e Jovem Guarda. Tavito usava botinhas dos Beatles e terninhos com aquela gola em ‘u’”, explica.

Aliás, das botas Mariza nunca se esqueceu: “Eu namorei com ele (Tavito também namorou outras), a gente ficava dançando abraçado horas e horas, não passava disso e era completamente delicioso”. Ela lembra que Tavito andava com botas de salto, calça justa com boca de sino e cabelo enorme e liso: “Meu pai exigiu que ele tirasse os saltos e cortasse o cabelo para aceitar o nosso namoro. Então, Tavito montou uma caixa cheia do perfume da época (Lancaster), colocou os saltos das botas e me deu de presente. Foi a maior prova de amor que recebi na vida”, reconhece.

Mariza conta que durante alguns anos foi uma festa todos os dias, das 16h até as 21h, 22h: “Acho que era muito importante para o Tavito o abrigo e a acolhida que ele tinha na Rua Ramalhete. Ficávamos tocando violão, até que minha mãe gritava que estava na hora de dormir. Íamos dilacerados…”

Ouça a música

Rua Ramalhete

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2 thoughts on “Os detalhes que eternizaram a Rua Ramalhete

  • 18 de agosto de 2023 em 2:25 am
    Permalink

    Rua Ramalhete é a música mais linda, pela sua riqueza de significados.
    Passa um filme pela minha cabeça toda vez que ouço erra música. Parece que sinto saudades de um tempo que eu não vivi.
    Grande Tavito!

    Resposta
  • 23 de setembro de 2023 em 7:34 pm
    Permalink

    E a música mais linda que já ouvi …me leva pra outra época eu ouço ela umas 10 vezes por dia e não enjoou….linda linda linda no meu aniversário quero ouvir ela o dia todo

    Resposta

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