Saiba como ajudar a Casa de Maria neste Natal
A Casa de Maria serve almoço no local duas vezes por semana (os dias variam, mas geralmente é terça e sexta), totalizando oito refeições por mês e mais de 200 pessoas atendidas diariamente no almoço e cerca de 100 no jantar, cujo esquema é diferente: “Quantos pais e mães vi chorar aqui por não saberem o que comer à noite”, diz Nilza. A fundadora, então, teve uma ideia: “Pedi vasilhas de sorvete e vidro de maionese para eles poderem levar a sopa para comer em casa. Alguns traziam até as panelas”.
A única divulgação é no boca a boca: “As pessoas ficam sabendo do dia, vem gente até da Rodoviária”, explica Dona Nilza. As refeições são preparadas na própria Casa de Maria, e o cardápio depende da variedade e quantidade de doações recebidas: “Costuma ter feijão com angu, frango com quiabo, salada etc.”.
Mas engana-se quem pensa que o trabalho na Casa de Maria é apenas oferecer refeições: “Distribuímos também roupas, agasalhos e cobertores, mas se precisar dar banho, fazer barba e cortar cabelo a gente faz também. Alguns moradores de rua chegam aqui em situação bastante difícil”, conta a fundadora. “A maior riqueza é você observar pequenos detalhes. Muitos não tinham o costume de lavar as mãos antes de comer, e nós exigimos isso aqui. Aos poucos eles foram aprendendo e ensinavam aos novatos coisas como abotoar a camisa e tirar o boné ao sentar-se à mesa”.
O verdadeiro espírito de Natal
A ceia de Natal na Casa de Maria é preparada com muito carinho: “Fazemos um almoço no dia 22 de dezembro porque a noite do dia 24 passo com a minha família”, avisa Dona Nilza. O projeto serve um prato dentre pernil, bacalhoada, lombo e peru assados, “alimentos diferentes do dia a dia por se tratar de uma data especial. Tem até doce e um pouco de vinho ou refrigerante”.
Para isso são necessárias doações: “Algumas empresas contribuem com o projeto, como uma padaria que distribui 350 pãezinhos. A Paróquia Nossa Senhora Rainha, no bairro Belvedere, cujo pároco é o Pe. Alexandre Fernandes, também contribui, assim como um grupo do Retiro das Pedras. Não temos ajuda do poder público nem de políticos”, explica Nilza.
Pessoas físicas e empresários podem doar alimentos – o projeto tem uma Kombi para buscar doações – ou quantias em dinheiro (Conta-Corrente 63537-6, Agência 1403 – Banco Itaú). O telefone da Casa de Maria é 3264-6003, e o projeto funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 14h. Quem quiser ser voluntário, basta procurar a entidade: “Já tivemos 40 voluntários, mas hoje são dez, incluindo alguns que já receberam atendimento aqui. Não temos uma nutricionista na Casa de Maria, seria muito bem-vinda uma. Quanto mais gente ajudando melhor, pois aumenta a rede de caridade”. A carga horária é combinada com o candidato, que precisa preencher uma ficha e renovar a cada seis meses. Ajudar ao próximo representa o verdadeiro espírito de Natal, faça a sua parte!
Dona Nilza: vida dedicada aos mais humildes
Dona Nilza vive no Aglomerado da Serra há 46 anos, mas não nasceu em Belo Horizonte: “Sou de Itabuna (Bahia), mas fui criada na roça”. A rotina pesada cobrou seu preço: “De tanto trabalhar e não me alimentar direito, desenvolvi tuberculose quando tinha nove anos, mas na Bahia não havia tratamento adequado”.
A jovem Nilza veio com a mãe para BH a fim de se internar, mas os médicos não deram certeza de que ela sobreviveria: “Falaram para a minha mãe ir embora, o que ela fez”. Nilza ficou num hospital de Santa Luzia e conheceu pai (Dr. Salgado) e filho (Dr. Otaviano) médicos que mudaram sua vida: “Fiquei numa sala isolada, pois estava à beira da morte. Alguém chegou lá e disse que ia me curar. Tive grande esperança, mas não sabia quem eu era nem onde estava”. Aos poucos, Nilza foi se recuperando e começou a engatinhar e a falar, como se fosse uma criança pequena. Ao completar 12 anos, um ano e nove meses internada, Nilza tinha perdido um pulmão, mas sobreviveu. Porém, para onde ela iria agora? “Os dois médicos me levaram para a casa deles e cuidaram de mim até os 18 anos”. Depois disso, Nilza passou a morar no Aglomerado da Serra: “Tenho Minas Gerais como minha mãe e meu pai, devo tudo a esse estado. A Bahia foi onde nasci e valorizo isso, mas aprendi tudo aqui em Minas Gerais”. Mais do que isso, Nilza é uma vitoriosa: “Eu me sinto uma guerreira, uma mulher que venceu a morte e as dificuldades. Senti que foi Deus que me curou e cuida de minha vida até hoje”.