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Sonho de Natal

Por Marilurdes Nunes

Graduada em jornalismo pela UFMG, prestou concurso público para tradutora juramentada em espanhol, tendo exercido essa profissão por 34 anos. Sempre gostou de escrever e, aposentada, é escritora de livros infantis e infantojuvenis.

 

O ranho grudado na cara suja forma um bigode engraçado, mal posicionado entre a boca e o nariz. O cabelo pastoso, num penteado que nunca viu pente. A camiseta imensa, gola repuxada, cheia de furos, mais parece um minivestido. Cascão nas pernas e no pescoço. Pés calçados com a sujeira negra do asfalto. Unhas grandes, lascadas e recheadas de imundície. O corpo magro, pernas finas, joelhos saltando como os da Olívia Palito.

Dez? Doze anos? O menino não tem idade.

O nome, se é que já teve um algum dia, ninguém sabe. O apelido é Titã. Ele mesmo se pôs esse apelido. Viu na TV, lá na loja, e gostou.

Nem sabe o que quer dizer Titã, só achou legal e pronto.

Antes, todo mundo o chamava de irmão do baiano. Mas seu irmão morreu, precisava de outro nome, não é?

É dezembro e faz calor.

Titã brinca no lago da praça junto com a turma.

De repente, começa um som alto. Vem de um caminhão todo enfeitado com muitas luzes. Soltam foguetes. A correria para ver de perto, não quer perder nada.

E lá vem o caminhãozão da Coca-Cola! Papai Noel lá no alto dando adeus.

Titã já viu Papai Noel outras vezes. Ele é um cara legal.

Titã sabe que é tudo de mentirinha, que ele não dá presentes nem nada. Mas gosta assim mesmo. Fica parado ali, sonhando.

Ah! Se Papai Noel pudesse mesmo dar o que a gente pedisse.

Ele ia querer ganhar uma capa de Super-Homem. Mas de verdade, que voasse mesmo.

Aí ele iria para onde quisesse. Poderia conhecer o mar, ver um jogo do Brasil na Copa.

A capa seria tudo de bom. Titã poderia voar da polícia, dos caras que tomam os celulares que a gente arranca das donas.

Titã voaria para onde fizesse calor, nunca mais sentiria frio.

Também iria levar os amigos para darem um passeio com ele.

Depois sairia voando, procurando um lugar legal para morar, com casa e comida.

Quem sabe podia até ter um pai e uma mãe.

E Titã continuava sonhando: – Eu podia ajudar todo mundo com a minha capa. Ia gente de um lado para o outro, que nem táxi.

Titã olhou para o Papai Noel e deu adeus.

Lá do alto, o Papai Noel acenou de volta. Papai Noel ria e parecia muito feliz.

No meio da multidão, Titã viu uma dona distraída. Podia pegar o celular dela e sair correndo. Era fácil, garantia o jantar.

Mas ficou ali parado, olhando o Papai Noel e sonhando com a capa de Super-Homem.

E se…?

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