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Você sabia que a Serra já teve um cinema?

Todo mundo já pegou fila, comprou entradas e se sentou nas poltronas de algum cinema, não é mesmo? Atualmente, a maioria das salas fica nos shoppings, mas nem sempre foi assim. A partir dos anos 1920 e, principalmente, do final da década de 1930 até meados da de 1940, o cinema explodiu em capitais como Belo Horizonte.

Aproveitando-se do crescimento da cidade, várias casas de espetáculo foram erguidas, a começar pelo Centro, como o Cine Metrópole e o Cine Brasil. O cinema passou a ser a grande diversão de Belo Horizonte, o que influenciou a expansão das salas também para os bairros. Quase todos tinham uma casa de espetáculo e na Serra não foi diferente.

Em 27 de dezembro de 1948, foi inaugurado o Cine Serrador, que ficava na Rua Professor Estevão Pinto, 722, onde hoje é o Ed. Elias Abras, na esquina com a Rua Miguel Abras.  Era uma sala para 300 lugares, com média de 120 sessões por ano, recebendo mais de 20 mil espectadores “de todas as classes sociais. Não havia um público específico, às vezes tinha até filme de graça”, relata Elias Abras, conhecido como Laluz, filho de Hugo Abras, um dos donos do Cine Serrador ao longo de sua trajetória.

Ele frequentou várias vezes o cinema, que tinha esse nome por causa da Serra: “Eu que buscava os rolos de filmes a ser exibidos. Depois que acabava a sessão, tínhamos que voltar o rolo manualmente, às vezes arrebentava”, lembra.

Elias também rememora que a tela era pequena, “mas depois conseguimos colocar a CinemaScope, uma tela meio curva, que tinha mais qualidade”. Na porta do cinema ficava o painel com o filme que estava passando, mas as letras eram destacáveis: “Meus amigos mudavam os títulos em tom de brincadeira, era muito engraçado”, se recorda Elias.

O Cine Serrador exibia filmes de faroeste, comédias, dramas etc., além das famosas matinês. Os seriados também faziam sucesso: “Quando chegava na parte boa da história, aparecia um ‘continua na próxima semana’, um incentivo para as pessoas voltarem”, explica Elias Abras.

Ele relata que seu pai tinha boas relações com as redes de cinema e às vezes conseguia passar os filmes ao mesmo tempo dos cinemas do Centro de BH, o que era extremamente difícil, por causa dos custos.

Elias Abras explica que o Cine Serrador “esteve arrendado para duas pessoas, o senhor Campos e o senhor Tavares, que se não me engano era dono de uma padaria”. O cinema da Serra funcionou até abril de 1958, ficou fechado até maio de 1959, quando Hugo Abras reassumiu a propriedade e reabriu a sala.

O local funcionaria apenas mais três anos, cerrando definitivamente as portas em 1º de abril de 1962: “O cinema ficava no lote da família, uma chácara de uns 9 mil m²”, recorda-se Elias. Nessa época outras salas deixaram de existir, embora a decadência dos cinemas em geral tenha se intensificado nos anos 1970, por causa da popularização da televisão, e em 1980, com o videocassete. A partir daí, o cinema migrou em sua maioria para os shoppings, o que se mantém até hoje.

As histórias do Cine Serrador

Evidentemente, o Cine Serrador era palco de muitas histórias curiosas: “Havia uma senhora vizinha nossa, mãe de um amigo, que ia todo dia ao cinema, não importasse o filme que estava passando, nem se era repetido”.

Elias Abras conta que ela tinha um lugar cativo, “a segunda cadeira da primeira fila, encostada na parede, que tinha até a marca da cabeça dela”. Segundo ele, “o cinema podia estar vazio, mas se alguém se sentasse no lugar dela, meu pai ia lá e pedia a gentileza de sair, já que a cadeira era dela”. Outra história engraçada é que “meu pai proibia entrar descalço no cinema. Podia até ir sem camisa, mas descalço não”, recorda Elias Abras.

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