Árvores na Serra: muitos cortes, pouco plantio
Sombra, ar mais puro e temperatura mais amena são apenas alguns dos benefícios das árvores. Em razão disso, leitores procuraram o jornal PLANETA SERRA para reclamar da grande quantidade de supressões e podas nas ruas da Serra, mas poucos replantios (depoimentos na pág. 2). Contatamos a prefeitura, que apresentou números que comprovam essas observações: na Serra ocorreram 98 supressões em 2019 e 91 em 2020, ao passo que só existiram 44 plantios em 2019 e 40 no ano passado. O poder público justifica que “muitas árvores foram plantadas em local inadequado ou não eram compatíveis com a legislação atual”.
De acordo com uma Portaria, o custo de destoca na Região Centro-Sul é de R$ 163,25 ou R$ 269,21, mas a prefeitura não pode retirar o toco e plantar uma nova árvore logo depois de suprimi-la: “São equipes diferentes, com serviços feitos em épocas distintas”. Os plantios ocorrem no período chuvoso (outubro a março) e seguem vários critérios estabelecidos pela Deliberação Normativa nº 69, inclusive com distâncias e dimensões de cova mínimos e recomendações de não utilização de certos espécimes.
O Plano Diretor versa sobre a promoção da biodiversidade e a qualificação de áreas verdes, “o que influencia a política de arborização urbana”. De fato, nos últimos meses a Serra tem recebido novas mudas, como nas ruas Capivari (entre Oriente e Níquel), Alípio Goulart e Angustura (entre Henrique Passini e Caraça). “Novas mudas estão sendo plantadas nas ruas Bambuí, Cícero Ferreira, Desembargador Mário Mattos, Luz, Muzambinho, Palmira, Pouso Alto, Estevão Pinto, Ramalhete e Trifana”, promete a PBH. Esses plantios são oriundos de pessoas jurídicas ou físicas que precisavam realizar compensação ambiental.
Embora a legislação seja pró-árvores, na prática isso ainda acontece muito pouco. Por exemplo, a prefeitura não tem nenhum projeto que incentive moradores a adotar uma árvore. Você pode pedir novos plantios (bit.ly/30yiLQE), mas o prazo é de sete meses, com média de 2,8 meses para ser atendido. Para mudar uma árvore de local são pedidos 88 dias úteis, com tempo médio de 35 dias úteis para ser atendido.
A manutenção das árvores também é deficitária. Muitos moradores reclamam da erva-de-passarinho na Serra, uma planta parasita que suga a seiva da árvore até matá-la e é espalhada pelos pássaros que se alimentam dos frutos e expelem nas fezes as sementes, que germinam sobre galhos, se agarram às plantas e crescem. A prefeitura faz a poda de limpeza das estruturas comprometidas, mas, como demora demais a atender aos chamados, é comum a árvore cair antes de receber manutenção.
Luciana Vieira, uma das articuladoras do grupo Arboriza BH, que estimula mais árvores na cidade, afirma que os pedidos de plantios atendidos pela prefeitura não chegam a 200 desde 2012: “Queremos mostrar para as pessoas que todos nós precisamos ser cuidadores das árvores”. Residente em Santa Tereza, ela procurou a associação de moradores do bairro e, juntos, fizeram um mapeamento de todas as ruas onde houve supressão de árvores, tocos, árvores remanescentes e onde havia espaço para plantio. “A presença da associação dá legitimidade ao processo não só para os moradores, mas para o poder público”, defende Pedro Barros, um dos integrantes da entidade.
Grupos incentivam as árvores em B. Horizonte
A preocupação com as árvores de Belo Horizonte faz parte da rotina de Lúcia Formoso, coordenadora do Fica Fícus e do Mais Árvores: “O Fica Fícus nasceu em 2012 em razão das moscas brancas nas árvores dessa espécie na Bernardo Monteiro e Barbacena”. O pontapé inicial do Mais Árvores foi em 2018, quando o cineasta Sávio Leite denunciou as supressões de árvores numa rede social: “Começamos a conversar e percebemos que isso ocorria não só na Serra como em todos os bairros, com foco nas regiões Centro-Sul e Oeste”.
Uma audiência pública para debater o assunto foi marcada e ocorreu, mas sem a presença da prefeitura. “O evento atraiu diversas pessoas e instituições com a mesma demanda, ajudando a formar o Mais Árvores, com raízes em vários bairros. Hoje somos 60 membros, sendo oito moradores da Serra”. Na visão de Lúcia, “há na prefeitura a ideia de que dar manutenção nas árvores significa cortá-las, não prevenir e tratar as doenças que as atingem. A prefeitura facilitou o corte, antes era preciso acionar o Ministério Público (MP) para tal”.
Lúcia Formoso contatou a PBH, não ficou satisfeita com as explicações e procurou o MP a fim de elaborar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) por causa da postura da administração municipal. Ela reconhece que a maior dificuldade é impedir as supressões: “Precisamos questionar a prefeitura antes que os cortes de árvores ocorram. Os técnicos sofrem muito para dar um laudo de supressão, pois se essa árvore cair a culpa será deles. Muitos se resguardam do risco e autorizam a supressão da árvore”. Segundo a coordenadora, o grupo impediu, há dez anos, o corte de uma árvore sete-cascas na Savassi: “A prefeitura queria suprimir por causa de risco de queda, mas fizemos um contra laudo e literalmente sentamos e abraçamos a árvore. Ela está lá até hoje, todo fim de ano comemoramos seu aniversário. A autorização do corte é muito rápida, queremos que a prefeitura nos apresente os laudos e nos dê tempo para questioná-los”.
O foco do Arboriza BH é outro: “Depois de muita luta, conseguimos ajuda da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que apoia os nossos plantios destinando mudas oriundas de compensação ambiental. Um técnico nos orientou como plantar”. O Arboriza BH tirou do papel um sistema de apadrinhamento e amadrinhamento de árvores no bairro Santa Tereza: “Entre outubro e dezembro de 2020 plantamos 84 mudas patrocinadas por moradores. As nossas ações são realizadas com segurança e em consonância com a legislação ambiental da cidade”.
A prefeitura diz não ser contra grupos organizados que estejam envolvidos nesse apoio: “Deve-se ressaltar que a autorização e a realização de plantios devem ser acompanhadas por técnicos da PBH”. Entre em contato com a Gerência de Áreas Verdes (geava@pbh.gov.br) ou com a Diretoria de Gestão Ambiental (dgea@pbh.gov.br). Luciana está otimista diante dos desafios que virão a seguir: “Não está em nós cruzar os braços e assistir passivamente ao massacre da vegetação”. Se você deseja participar de um dos grupos citados, saiba mais detalhes no Instagram.
Arboriza BH: @arborizabh ou 99339-8851 (WhatsApp)
Mais Árvores: @maisarvoresbh