Você lembra da Sociedade dos Amigos da Serra?

É comum o bairro ser representado por uma associação de moradores. A entidade geralmente tem força política para defender os interesses da região, trazendo melhorias para as pessoas. A Sociedade dos Amigos da Serra (SAS) foi nossa guardiã até 2018, quando encerrou as atividades oficialmente, embora já não houvesse movimento anos antes. Numa consulta ao CNPJ, a situação cadastral está inapta desde abril de 2021 por omissão de declarações.

Apesar de uma parte dos moradores não se lembrar da SAS, a instituição teve grande importância não só para a Serra, mas também para BH. Fundada em 13 de fevereiro de 1967, há quase 58 anos, sua abertura oficial se deu em 18 de julho de 1970. “A nossa primeira sede foi na Rua Caraça, 966, esquina com Guaxupé, na entrada do Aglomerado da Serra, onde hoje é a Casa de Maria”, informa Teresinha Marta Gonçalves, presidente da SAS de 2000 a 2004. Ela não sabe o que aconteceu para a entidade passar a ocupar uma sala na 127ª Cia. da PM na Rua Trifana, 839, pois “os documentos foram entregues para alguém da diretoria da época e acabaram pegando fogo, foi tudo perdido”. Até 1994, a associação atuou em prol do nosso bairro e do Aglomerado. Havia atendimento médico, dentário, distribuição de alimentos, cursos, entre outros. No período de Teresinha, o apoio se deu nas votações do Orçamento Participativo, com as entidades de lá escolhendo projetos de interesse da SAS e vice-versa.

Teresinha procurou a instituição a fim de oferecer seu trabalho voluntário por desejar deixar “um legado para a Serra, onde moro e meus filhos foram criados”. Ela passou por vários cargos, pois havia um rodízio de funções diante da falta de vontade dos moradores em participar. Um dos feitos mais impactantes em seu mandato certamente foi a coleta seletiva: “Fomos o primeiro bairro de BH a ter o serviço. Em 2002 fizemos parte de um projeto-piloto que contou com o recolhimento em 60 edifícios. A Coca-Cola nos doou o caminhão e a prefeitura também ajudou muito. A partir da Serra é que a coleta seletiva foi sendo ampliada para outras regiões da cidade”.

A SAS também teve outras iniciativas importantes como o Xô Cocô: “Distribuíamos sacolinhas para as pessoas recolherem as fezes de seus animalzinhos e chegamos a tocar um jingle num carro de som que passava pelo bairro divulgando. Não sei dizer se funcionou, mas chamou atenção”. A parceria com a PM também era marcante: “Fizemos doações de carros, motos, bicicletas e radiocomunicadores para a 127ª Cia. e tínhamos reuniões todo mês para tratar da segurança. A relação era de proximidade e respeito”. Teresinha também se recorda dos cursos para porteiros, que ocorriam 2 vezes por ano: “Nós fornecíamos os materiais, enquanto a PM ministrava as aulas. Dávamos orientações sobre economia de água e energia a esses profissionais, que estavam na linha de frente”.

A força da associação também se viu em 2002, quando houve grave enchente onde hoje é a Rua Bento Salles, ex-Américo Scott. “Um dia depois nos reunimos com o prefeito e conseguimos a canalização do córrego até o São Lucas, o que corrigiu o problema”. Todo esse trabalho era feito por apenas 10 pessoas, 100% voluntárias, e mantido com o pagamento de mensalidades pelos moradores. O reconhecimento da SAS se deu com o Prêmio Gentileza Urbana e em evento de homenagem na Câmara de Vereadores pelos 40 anos de fundação. “O nosso período à frente da entidade foi de uma atuação dinâmica, com muita criatividade e projetos. Deixamos um legado!”.